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Conhecendo a Igreja

Entrar no tempo litúrgico é inserir-se nas dimensões simbólicas, favorecendo, de modo visível, os sentidos humanos para compreender e vivenciar o mistério sagrado na vivência humana. Com isso, o tempo litúrgico constitui-se da comunicação dos movimentos litúrgicos, dos atos e gestos, e leva naturalmente a fazer dessas manifestações exteriores a expressão da própria vida interior (Romano Guardini). Dessa forma, ser introduzidos no tempo litúrgico é perceber as várias dimensões simbólicas manifestadas no tempo, que nos comunicam a eternidade de uma realidade Pascal. 

Olhando para o tempo litúrgico do Advento e do Natal, podemos distinguir alguns aspectos deste tempo de preparação, tanto para o Natal quanto para a vinda gloriosa de Cristo, chamado de advento escatológico. “Por este duplo motivo, o tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa” (Introdução geral do Missal Romano e introdução ao Lecionário). É sabido que a liturgia do Advento agrupa quatro domingos, iniciadas com as Primeiras Vésperas do domingo do dia 30 de novembro, ou no domingo que fique mais próximo, terminando antes das Primeiras Vésperas do Natal do Senhor.  

Ademais, estes aspectos do Advento, que são como seus apanágios, fazem-nos vivenciar, durante essas quatros semanas, a espera do Messias, vinda na carne humana e “para jugar os vivos e os mortos”. Por isso, no primeiro domingo, ficam evidenciados os aspectos escatológicos, e procura nos orientar para a espera da vinda gloriosa de Cristo. Em seguida, de 17 a 24 de dezembro, toda a liturgia, tanto na Missa quanto da Liturgia das Horas, orienta-se mais diretamente à preparação do Natal. Vale ainda destacar alguns símbolos visíveis: a coroa do Advento, os cantos apropriados e o presbitério modesto; os sinais de penitência e alegria; o presépio e árvore de natal. 

Prosseguindo com estas características espirituais do Advento, além da penitência e alegria, toda a “comunidade é chamada a viver algumas atitudes essenciais à expressão evangélica da vida, a saber: a espera vigilante e jubilosa, a esperança, a conversão”. É o Maranatha: vem, Senhor Jesus (Ap 22, 17-20). Toda a Igreja, sofrendo as demoras do Cristo, jubilosa se encontra para que chegue o dia em que se “O veja face a face” (1 Cor 13, 12). 

O Advento, de maneira feliz, realça a cooperação de Maria no mistério da redenção, diferentemente dos demais tempos. Contudo, não podemos restringir a liturgia do Advento como o melhor tempo para ser refletir como mês de Maria, exatamente porque esta liturgia é essencialmente a celebração do mistério da vinda do Senhor, ainda que seja um mistério que se ache particularmente ligado à cooperação de Maria (cf. Dicionário de Liturgia). A gestação da Maria Virgem é simbolizada não somente como o tempo de gestação do menino Deus, mas, sobretudo, da humanidade sendo formada e preparada para a vinda do seu Salvador.

“Et Verbum caro factum est et habitavit in nobis” (Jo 1, 14). Dessa maneira, o habitar de Deus entre nós significa muito. Nos recorda o tabernáculo dos templos da saída do Egito, em que Yahweh mostrava a Sua presença no meio do povo de Israel mediante certos sinais da Sua glória, como a nuvem pousada sobre a tenda (Ex 25, 8; 40,34-35). Até mesmo o Antigo Testamento já anunciava que Deus habitaria no meio do Seu povo. Após os sinais de Sua presença - primeiro na Tenda do Santuário peregrinante no deserto e, depois, no Templo de Jerusalém –, segue-se a prodigiosa presença do Homem-Deus entre nós: em Jesus, perfeito Deus e perfeito homem, se realiza a antiga promessa.  

Comumente o Natal se celebra festivamente com a Epifania, formando uma única festa que tem um único objetivo: a encarnação do Verbo. “Menciona-se ser celebrada no dia 25 de dezembro, no ano de 354, em Roma, no catálogo das festas chamado Depositio Martyrum, com a rubrica VIII Kal” (Pe. João Batista Reus). Por isso, é interessante em perceber que “a expressão natale Domini exprime o caráter histórico e concreto desta festa. A celebração do Natal, porém, não se detém no fato histórico, mas deste passa ao seu verdadeiro fundamento, o mistério da encarnação” (Dicionário de Liturgia). 

É interessante pensarmos que o evento da Encarnação não somente se constitui como a manifestação de Deus na carne. A oração litúrgica reza que “Deus se fez homem para que o homem se fizesse Deus”. Visto desta maneira, a forma de Deus humanado é, para toda a humanidade, salvação. E isso se percebe nos seus gestos e palavras, quando os Evangelhos revelam as curas e as libertações feitas por Jesus. “No momento em que o Filho assume nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade: ao tornar-se Ele um de nós, nós nos tornamos eternos, somos introduzidos no Reino dos céus, e o universo é restaurado” (Prefácio do Natal do Senhor, II e III).   

Portanto, celebrar esse tempo litúrgico é fazer memória do mistério da salvação, e perceber que Deus entrou na história humana impregnando o tempo de eternidade. Neste sentido, “o ano litúrgico celebra o mistério de Deus em Cristo e, portanto, se acha enraizado na série de eventos mediante os quais entrou na história e na vida do homem”. Com isso, vivamos cada tempo com profunda fé, inserindo-nos no mistério Pascal, assimilando em nós a força do mesmo mistério, para que conformados à Pessoa de Cristo, possamos transparecer em palavras e em gestos a sua vida em nós.

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Edição Digital Auxiliar

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